A primeira Oficina de Trabalho/Planejamento do Lab CD com o Minc aconteceu de 10 a 12 de abril, na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. Participaram do evento toda a equipe estratégica e executiva do Lab, além dos coordenadores do Projeto Mapas e gestores de diversas secretarias do Ministério da Cultura (MinC).

O primeiro dia do evento foi aberto ao público, e a Mesa de Abertura contou com as participações do Secretário Executivo do MinC, Marcio Tavares; da secretária dos Comitês de Cultura do MinC, Roberta Martins; da secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, Márcia Rollemberg; do coordenador-geral dos Comitês de Cultura do MinC, Xauí Peixoto; da professora da UFPR e coordenadora do LabCD/ UFPR,Tarcisa Bega; dos coordenadores do Projeto Mapas (UFPR/MinC), Deborah Rebello e Uirá Porã; do coordenador do Comitê de Cultura do Paraná, João Paulo Mehl; e da diretora do Coletivo Digital e representante do Conselho Ancestral da Cultura Digital, Beá Tibiriçá.

Fotos por Tarcísio Boquady / MinC

Abrindo as falas, Mehl provocou sobre o papel da cultura digital na atualidade. “No contexto dos algoritmos, será que estaria a cultura digital apenas nos espaços das plataformas, dos sites, dos códigos, ou estaria ele transcendendo os espaços da nossa vida?”, questionou.

Relembrando um tempo em que nem havia smartphones e internet, a professora Déborah Rebello trouxe à Mesa a memória do início do Cultura Viva, propulsor de tudo o que veio depois em termos de políticas públicas culturais, e apontou a necessidade do LabCB, agora nessa sociedade hiperconectada, dar conta de disputar esse debate do que é estratégico hoje para a Cultura no Brasil.

 

 

“Os projetos (LabCD e Mapas) se propõem a deixar um legado, para discutir política cultural na universidade, para que possamos mapear os ativos de gestão cultural para fortalecer o ecossistema. O papel da universidade é demonstrar o papel da produção de conhecimento, de maneira dialógica, em contato com a sociedade, trazendo novas camadas para o conceito de cultura hoje”.

Para Márcio Tavares, são inúmeros os desafios dos projetos, tanto no sentido apresentado por Rebello, quanto na própria agenda de disputa atual, usando o caso da regulamentação dos serviços de streaming no país, processo em curso hoje no MinC, que se cruza com a discussão sobre soberania digital no país.

“Todos estamos vendo como é importante a discussão das mídias digitais, sobretudo as que estão se mostrando como um risco à soberania das nações, por exemplo as plataformas de streaming, apontando que o lab tem o papel fundamental na garantia dessa soberania, que permita exatamente discutir as formas de garantir direitos também no espaço digital. E que não sejam apenas pautados pelo lucro e interesse privado, mas como uma forma de atuação sobre o imaginário da sociedade”.

 

 

Lembrando a necessidade de sonhar, mas também de focar na dimensão prática do projeto, a coordenadora Tarcisa Bega destacou que o Laboratório é um espaço de experimentação, de criação de políticas públicas, a um enfoque na cultura digital, mas não exclusivamente, destacando a dimensão formadora da Universidade.

“Temos um compromisso fundamental de formação, de produção de conhecimento, documentos, metodologias, com diversas camadas. E para isso é necessário ter recursos, para que efetivamente seja possível tirar as ideias do campo da retórica”.

 

 

Também iniciando a fala por um viés histórico, a representante do Conselho Ancestral, Tibiriçá, recordou os tempos em que nem se falava sobre inclusão digital como um direito dos cidadãos e cidadãs. Tampouco em uma governança colaborativa e em rede, como hoje se fala. Traça uma linha do tempo das contribuições da cultura digital para a Cidadania e aponta a evolução dos tensionamentos. “Com os debates que ocorreram com a Rede Brasil, casa de formação, cheguei à conclusão que não precisamos mais falar de inclusão digital, a cultura digital já é formação e controle social. Com a pandemia o que descobrimos é que ainda falta acesso, mas falta especialmente letramento digital”.

 

Mesa “Cultura Digital, história e importância para a democracia brasileira”

 

 

Em seguida ao painel de abertura, aconteceu a Mesa “Cultura Digital, história e importância para a democracia brasileira”, conduzida pela coordenadora de Design de Políticas do LabCD, Rachel Bragatto; pelo pesquisador em participação social e doutor em Desenvolvimento Socioambiental, Jader Gama; pelo coordenador de Letramento Digital do LabCD, Marco Amarelo; pela diretora do Coletivo Digital e representante do Conselho Ancestral da Cultura Digital, Beá Tibiriçá.

Reconhecendo quem veio antes e assumindo uma posição de gratidão e de responsabilidade com o presente, Gama abriu sua fala saudando duas pessoas importantes, Cleodon Silva e Daniel Pádua, grandes referências da cultura digital que já não estão conosco. E lembrou a contribuição democrática que a cultura digital deu e continua dando para o país, dentro dos governos.

“O MinC se colocou na vanguarda da cultura digital quando se propôs discutir o Marco Civil da Internet, trazendo ferramentas de participação social quando o governo ainda patinava sobre isso. E agora, diante da necessidade de incluir a participação social mais uma vez no debate e no fazer político, a cultura digital se apresentou de novo apontando uma ferramenta para o Brasil Participativo, bebendo da experiência do Movimento Plataformas com o Decidim”.

Lembrando a relação com a cultura viva, com a ecologia ampla da cultura digital, Rachel Gadelha resgata que o LabCD já está em sua terceira edição, reafirmando sua vocação de experimentação e citando a Rede Latinoamericana de Cultura Digital e o Delibera, como experiências marcantes do projeto. E o poder dessa retomada.

“Se todas as áreas sofreram desmontes, na área da cultura nós perdemos um Ministério. Vivemos um hiato de desinstitucionalização, mas também de resistência.

 

Um pouco de quem somos e caminhos trilhados

 

 

Na manhã do dia 11 de abril, os coordenadores do Laboratório – em seus eixos de Linguagem Simples, Design de Políticas, Letramento Digital, Narrativas e Redes, Articulação Interfederativa e Soluções Digitais – conduziram as apresentações que informaram os participantes sobre os caminhos já trilhados e produtos entregues pelo LabCD. Foram relatados os métodos que atualmente orientam as ações dos eixos e os resultados preliminares das pesquisas quantitativa e qualitativa promovidas durante a Conferência Nacional de Cultura.

O estudo quantitativo abordou hábitos participativos, conhecimento das conferências, avaliação sobre os editais na área e letramento digital, além de dados sócio demográficos. Para Rachel Bragatto, coordenadora de Design de Políticas Públicas, chamou atenção a alta renovação dos participantes na conferência, com 77,7% participando pela primeira vez da etapa nacional da Conferência de Cultura, explicado, entre outros possíveis motivos, pelo hiato de dez anos desde a realização da última conferência nacional na área.

Por outro lado, destacou-se a baixa participação em sindicatos (27,1%) em comparação à alta participação em coletivos ou grupos temáticos (86,5%) e movimentos sociais (81,6%). 75,8% dos entrevistados já participou de conferência de outra área temática e 58,9% participam ou já participaram de conselhos municipais de cultura. A pesquisa foi realizada pelo LabCD em parceria com o INCT Democracia e Democratização da Comunicação entre os dias 4 e 7 de março e entrevistou presencialmente 207 delegados da 4a CNC.

Em seguida à apresentação das pesquisas, a Coordenação de Narrativas apresentou o processo de rearticulação do LabCD em uma linha do tempo, desde a escrita do Termo de Execução Descentralizada até hoje, e mostrou os achados da construção da identidade do Lab – com definições sobre como o projeto se percebe e como se vê atuando em sua temporalidade.

 

 

A manhã foi encerrada com a demonstração dos eixos de organização do LabCD e seus respectivos produtos, previstos na versão inicial do projeto, como momento propulsor para a troca de ideias e calibragem de expectativas. De que forma esses produtos podem atender alguns problemas já mapeados em consonância com o Ministério da Cultura? As soluções serão focadas em quais personas?

À tarde, divididos em grupos de acordo com os quatro principais tipos de produtos em desenvolvimento pelo laboratório – documentos com metodologias, formações, eventos e soluções digitais – os participantes participaram de um World Café, dinâmica para trocas e colaborações sobre cada uma das entregas previstas, guiadas por questões sobre públicos envolvidos, datas, formatos, temas etc.

Na manhã do último dia de Oficina, 12 de abril, os resultados do World Café foram apresentados pelos coordenadores do laboratório, que puderam demonstrar coletivamente questões pertinentes levantadas a respeito dos produtos. Foram muitas contribuições, que serão sistematizadas pelo laboratório e entregues ao MinC,além de divulgadas à sociedade.