Cultura e democracia digitais, conhecimentos livres e empoderamento. Nos últimos três meses de 2013, essa foi a tônica do intenso trabalho desenvolvido pelo Laboratório de Cultura Digital. Nesse período, 276 organizações culturais da sociedade civil participaram dos espaços ou foram de alguma forma envolvidas nos trabalhos do Lab. As 21 atividades das quais o Laboratório participou ou promoveu (dentre elas oficinas, conferências, encontros, congressos, fóruns e teias) atingiram 513 pessoas presencialmente, sem contar as que acompanharam esses encontros virtualmente.

O desenvolvimento de tecnologias deu prioridade ao aprimoramento da plataforma Rede Livre otimizando a infraestrutura de servidores e facilitando a apropriação dos desenvolvedores. A comunicação entre todos os envolvidos no desenvolvimento se dá por meio da plataforma de discussão dev.redelivre.org.br.

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Ciclo de Cultura Digital em Natal durante a Teia Potiguar

Os Ciclos de Cultura Digital, que passaram por 11 cidades do Brasil e da América Latina, foram importantes momentos de diálogo com as organizações e Pontos de Cultura interessados na Rede Livre. A coleta de sugestões nesses espaços alavancou o processo de adequação da plataforma às necessidades dos usuários.

“Não nos limitamos a executar o que estava como objeto definido pelo convênio. Fizemos mais que o dobro de oficinas que tínhamos assumido, conseguimos entregar mais ferramentas e tecnologias em software livre do que havíamos nos comprometido. Não nos limitamos a fazer o trivial”, aponta o coordenador de Cultura Digital do Lab, João Paulo Mehl.

Para ele, o contato direto  com vários tipos de manifestações culturais, dos quilombolas aos grupos teatrais, foi de intenso aprendizado. “Foi bom para entendermos que cada tipo de organização tem suas características e pontos específicos, compreendendo que a cultura digital só se faz com o movimento de base”, enfatiza.

Mobilização em torno da Rede Livre

Esse processo de mobilização ampliou o acesso de Pontos e organizações à Rede Live. São 350 usuários cadastrados e 146 projetos iniciados na plataforma. O Quilombo do Sopapo, Ponto de Cultura do Rio Grande do Sul, é uma das entidades que está desenvolvendo sua página por meio da Rede Livre. Para Leandro Anton, do Quilombo,  o processo de desenvolvimento é recente e ainda não há resultados concretos, mas a iniciativa é animadora principalmente em relação à plataforma Delibera. “Temos muita expectativa por causa da necessidade de participação à distância. Às vezes é preciso debater um ponto específico, mas que requer a participação de todos. O Delibera seria uma oportunidade de organização de redes, que estão buscando maneiras horizontais para trabalhar”, aponta.

Vivência da Cultura Digital

Primeira Vivência de Cultura Digital realizada em Curitiba

Além dos Ciclos de Cultura Digital, das Teias, Fóruns e Encontros, o Laboratório também promoveu Vivências de Cultura Digital em Curitiba. Integrantes de organizações e Pontos de Cultura conheceram mais profundamente e sanaram dúvidas sobre a plataforma nesses dias de imersão. Márcio Conceição da Silva é integrante do Pontão de Cultura Grãos de Luz e Griô e participou da primeira vivência realizada. Para ele, o principal ponto positivo do Lab é a disponibilização de formas colaborativas de produção. “Algumas iniciativas, como o Griô, às vezes não têm oportunidade de veicular as produções, os projetos”. Durante a residência, Márcio tirou dúvidas sobre o design do site.

Outra importante participação do Lab foi na Teia Potiguar, que aconteceu em Natal em dezembro. A cidade será sede da Teia Nacional em maio, uma grande oportunidade de integração entre os Pontos de Cultura. De acordo com Teotônio Roque, membro da Comissão Nacional de Pontos de Cultura e organizador do evento, é grande a expectativa para o encontro. “Espero que 2014 seja a Copa da Cultura no país. Acredito que essa Copa deixará um melhor legado para o Brasil”, brinca.

As atividades do Laboratório de Cultura Digital serviram também de espaço para discussão e balanço dos dez anos de políticas de cultura digital no país, principalmente as ligadas ao Programa Cultura Viva e aos Pontos de Cultura. Alexandre Santini, do Laboratório de Políticas Culturais do Rio de Janeiro, aponta que o papel da cultura digital atualmente é muito distinto do que era há dez anos, quando a questão digital se restringia aos estudiosos e iniciados na área. “Hoje, o Lab cumpre o papel fundamental de ser uma espécie de repositório do que foi produzido na última década, de organizar e sistematizar plataformas, conteúdos que, de certa forma, ainda necessitam de uma narrativa”, ressalta. Para ele, o Lab tem condições técnicas e políticas de potencializar esse debate, uma vez que a equipe sempre esteve vinculada com esse processo.

O que 2014 reserva para a Cultura Digital

Para João Paulo Mehl, os próximos esforços devem estar voltados à perspectiva de promover encontros de conhecimentos livres, para que a experiência do Lab em parceria com a UFPR possa chegar a outras universidades. Além disso, Mehl aponta a importância de ações que garantam mais autonomia tecnológica aos Pontos de Cultura. “Vejo que a partir dessa avaliação, temos uma continuidade das ações não só do desenvolvimento de tecnologias, mas também de integração de plataformas. Na perspectiva das Redes Federadas, temos que investir esforços para integrar as diversas plataformas que os pontos utilizam”, sinaliza.

Leandro Anton compartilha o mesmo entusiasmo quanto à utilização da Rede Livre para a integração dos Pontos de Cultura do Rio Grande do Sul. Existe a previsão de que agentes culturais gaúchos venham a Curitiba para mais uma Vivência de Cultura Digital. “O contato com o Lab foi muito bom. A perspectiva é boa e estamos animados. Essa relação abre espaço para criação de uma rede regional porque está disponível para outras redes”, afirma.

Para Alexandre Santini, os desafios são muitos, a exemplo da Teia Nacional e da aprovação da Lei Cultura Viva. Nesse cenário, a atuação do Lab é uma ferramenta importante. “Em todos esses eventos, o Lab se coloca como mais um instrumento de comunicação e distribuição de informações”, pontua.

As perspectivas para 2014 são de continuidade do trabalho de empoderamento das organizações e dos Pontos de Cultura, de desenvolvimento de softwares e conhecimentos livres e de integração entre os agentes culturais de todo o Brasil. Nas palavras de Teotônio, “o trabalho do Laboratório de Cultura Digital tem tudo para fazer com que a Cultura Viva fique cada vez mais viva”.