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O baobá é símbolo de sabedoria para o povo africano. A árvore vive mais de três mil anos e o seu cultivo depende do trabalho coletivo de várias gerações, criando e fortalecendo a memória coletiva ligada ao território. Preservando essa forte tradição, a Rota dos Baobás deu continuidade, nos dias 7 e 8 de dezembro, à conexão entre os povos de Mururata (BOL) e da Comunidade Quilombola Cafundó (SP). O encontro é promovido pela Rede Mocambos e tem o objetivo de fortalecer a relação dos quilombos e povos originários entre si e com o território.

Para falar da Rede Mocambos, é preciso remontar ao século XIX, época em que a  escravidão compunha o cenário brasileiro. Por ser um dos maiores símbolos da resistência negra em território brasileiro, o Quilombo dos Palmares é uma das inspirações para a Rede. Mocambos eram vilas autônomas que faziam parte dos quilombos. Elas se comunicavam e se interligavam para defender seu território e sua história. Essa luta ainda se faz necessária hoje em dia, e a atuação da Rede Mocambos tem isso como objetivo.

História da Rede Mocambos

Além de buscar ferramentas de comunicação livres e independentes, a Rede Mocambos tem o objetivo de promover sua própria infraestrutura de comunicação, desatrelada às que são ofertadas pelas empresas de telecomunicação. E aí entra a função da Baobáxia, uma espécie de servidor autônomo que busca unir as comunidades da Rede Mocambos. Adota como princípio básico e metodologia de trabalho os fundamentos do software ivre, tanto na gestão das equipes de trabalho, quanto nas soluções tecnológicas que utilizará.

Para TC Silva, sábio da matriz africana e articulador da cultura digital, a Rede conseguiu efetivar, em pouco mais de dez anos de existência, alguns convênios importantes com Ministério das Comunicações e Cultura. “Começamos localmente porque não tínhamos pernas pra expandir. Hoje  podemos dizer que a Rede Mocambos está representada em mais de 20 estados do país e fora dele também, temos efetivado essa conexão a exemplo do que a gente vivenciou aqui na Rota com o povo de Mururata”, aponta.

TC ressalta a importância do conhecimento sobre as tecnologias africanas e salienta que é preciso ficar atento às falácias criadas para explicar o surgimento das tecnologias com mentiras. “As tecnologias africanas contribuíram para a sobrevivência da humanidade. A tecnologia não nasceu daqui ou da Grécia. Tem outros fatores que foram negados, muitas apropriações de saberes. Inventaram a lógica das patentes, do acúmulo de poder, de domínio e essas lógicas não respeitam as história verdadeiras, elas constróem histórias de acordo com a sua convicção. Criam deuses, demônios, todo tipo de falsidade para dominar”, defende.

O trabalho da Rede Mocambos já viabilizou o contato de diversas comunidades quilombolas com as tecnologias da Comunicação. “A Rede Mocambos começou localmente porque a gente não tinha pernas para expandir mais. Hoje a gente pode dizer que a rede está representada e mais de 20 estados do Brasil e alguns países”, aponta TC. Para ele, água, terra e informação são os pontos fundamentais para que haja autonomia e liberdade para esse povos. Vince, também da Rede Mocambos, reforça essa ideia. “A gente está nessa luta pra tentar melhorar a comunicação, a propriação de tecnologias para uma comunicação mais humana. Nesse ponto,  a gente tem mais uma vez como referência o Baobá”, diz.

Em 2014, outras Rotas do Baobá estão previstas para acontecer pelo Brasil afora. O Laboratório de Cultura Digital continua dando apoio irrestrito à Rede Mocambo com o objetivo de contribuir para o fortalecimento da tradição e da autonomia dos povos originários e de sua cultura.